terça-feira, 13 de novembro de 2012

Jornalistas e infografistas: uma relação de amor e ódio.

Artigo originalmente produzido para o Visual Loop

As batalhas conceituais e os pontos de vista pessoais nas redações.

O espaço editorial disputado com inteligência é um ótimo campo para que propostas inovadoras se consolidem. A edição em conjunto produz material de alto nível, o The New York Times e a National Geographic são exemplos desta prática, com a colaboração de profissionais de diferentes áreas (e não apenas com infografistas e jornalistas) fazendo história.


Mas como convivem infografistas e jornalistas em outras redações? Neste artigo, falo do meu ponto de vista de infografista, mas sem evitar algumas questões são inconvenientes para nós, como postura, comprometimento, e formação.

Infografia é resultado de trabalho cooperativo e multidisciplinar, mescla apuração, análise e críticas conjuntas entre repórter, editor e logicamente o infografista. A interação entre estes profissionais permite um olhar mais amplo sobre o mesmo assunto, como uma junta médica composta por especialistas que avaliam os procedimentos e decisões. Podemos usar a mesma analogia, uma vez que cada infográfico é único em sua concepção.

Dentro deste cenário, um tema pouco discutido é a relação (nem sempre cordial) entre jornalistas x infografistas.

De relações cooperativas e construtivas a unilaterais e improdutivas, o infográfico é uma obra jornalística que sempre instiga o debate, e estes podem ser, claro, amistosos ou hostis.

Trabalhos discutidos amistosamente representam o cenário ideal, como céu azul para o piloto de avião ou o mar liso para o capitão de um navio. Tempo perfeito e stress zero. Porém, esta não é a regra das relações entre jornalistas e infografistas.

O atual momento da infografia exige posicionamento proativo de ambos, o que por muitas vezes gera muito material, inúmeras abordagens para a mesma pauta. Aqui temos o cenário ideal para que cada profissional defenda seu ponto de vista, muitas vezes de forma irredutível.

Anos atrás, o infografista era (em essência) o responsável por “embalar” gráficos, tabelas ou “pseudoinfográficos”. Esta forma de trabalho colocava o jornalista na confortável posição de autor e consumador da informação, como um guru que detinha o direito e palavra final sobre a informação e qualquer oposição contrária era facilmente rechaçada.

Os anos passaram, os conceitos da infografia evoluíram (e ainda estão evoluindo) e os infografistas também. A necessidade de compreender e contribuir efetivamente com a notícia transformou infografistas em jornalistas infografistas. Assim começaram os investimentos pessoais em cursos de jornalismo, conferências sobre comunicação, aulas de estatística e uma infinidade de incursões por disciplinas (muitas vezes) opostas à formação básica em design.

Este “upgrade” profissional colocou finalmente frente a frente o jornalista tradicional e o jornalista visual com opiniões muito diferentes. Essas opiniões geraram discussões, e estas ganharam volume e relevância. As redações nunca mais seriam as mesmas.

Batalhas conceituais e pontos de vista pessoais começaram a ser demolidos um a um. Eu particularmente acredito que (se não fosse utópico) o mundo ideal seria um em que o  jornalista também pudesse passar por um “upgrade” profissional e aprofundasse seu conhecimento em design de informação.

Mas ainda temos um entrave histórico, o peso político do jornalista. A última instância de decisão ainda é do “homem de texto”. E o que isso gera? Invariavelmente a sensação que infografista é um jornalista de segunda classe.

Em muitos casos esta cultura é verdadeira, pela simples omissão de infografistas que não exercem o que se espera deles, por vezes se comportam somente como infografistas e não como jornalistas infografistas. Numa simples conversa, um repórter ou editor diferencia um do outro. Uma simples conversa é o suficiente.

Assim se estabelecem os encargos profissionais entre jornalista e infografista. O máximo de autoria será novamente no design. Mais do mesmo.

Venho de uma geração que era feliz em produzir “visuais legais”, esse era o motivo do meu inconformismo, sempre estava disposto a propor e era dissuadido com repostas como:
Não dá para fazer isso.
Ninguém tem essa informação.
Isto não está no lide da matéria.
Vai dar muito trabalho para apurar e não temos tempo para isso.


Aliás, esta última frase ainda está no top 5 dos argumentos mais rotineiros. Um resquício dos tempos de domínio total do jornalista com suas fontes guardadas a sete chaves. O jornalista era o senhor absoluto da informação. Nenhum infografista tinha fontes, foi nesta época que iniciei minha lista particular.

Hoje é fácil criar uma lista com boas fontes, encontrar as pessoas certas, empresas e profissionais de qualquer setor podem ser achados, e o melhor, eles estão dispostos a colaborar. Tenho fontes entre engenheiros, médicos, zootécnicos, analistas de mercado, tecnólogos, físicos teóricos, em suma para se montar uma agenda confiável basta prospectar.

A relação entre infografista e jornalista.

Trabalhos produzidos com igualdade de decisão nunca decepcionam. É indiscutível a quantidade de bons trabalhos produzidos nessa sinergia, e a consequência final é o Leitor satisfeitos. Então o que impede este modelo ser a regra nas redações?A resposta é simples: Prisão a usos e costumes.

Mesmo em locais onde esta relação está estabelecida os embates são frequentes:

- O leitor não está interessado nisto.

Quando ouço isso costumo responder:

- Você poderia me enviar este estudo?


Ou:

- Quem conduziu este estudo?

Isso funcionou até os anos 90, hoje a ingenuidade é uma escolha não padrão.

O domínio sobre informações como ciência e tecnologia não é mais privilégio de alguns, com poucos cliques (por exemplo) você está no site da Nasa diante de toda informação que quiser. Informações que antes levariam semanas para serem apuradas estão acessíveis em dez minutos.

Algumas vezes infográficos emperram por excesso trabalho de repórteres apurando várias matérias ao mesmo tempo, isso prejudica muito a qualidade da informação.

Um texto pode ficar ruim, mas se preencher o espaço, então beleza! Isto foi repassado para os infográficos. Vale a cultura do:

- Vamos fechar!

Um bom infográfico (assim como uma matéria) necessita de conteúdo de qualidade. A consequência de não pensar assim é visível nos trabalhos superdimensionados, muitos publicados em página dupla e que caberiam honestamente em uma coluna. Um infográfico vazio é detectável até por quem não sabe nada de infografia.

Aqui cabe ao infografista fazer a diferença, ainda que repórter ou editor diga que não possui mais informações. Já fiz e faço isso constantemente, vou atrás. Mas tudo tem um preço, discussões e stress.

Por vezes acabei sendo apoiado em instâncias superiores a repórteres a editores, pelo simples fato de ter material mais consistente que o autor da matéria, mas isso gera atritos.

O empreendedorismo infográfico não é bem visto por jornalistas quando:
Querem sombra e água fresca.
Vivem o sucesso profissional.
Estão em evidência.
Não acreditam na infografia.
É vista como concorrente de seu texto.
Consideram a infografia muito trabalhosa.
Acreditam que o texto solitariamente dá conta do recado.


Mas a proatividade do infografista é bem vista quando o jornalista:
Não quer sombra e água fresca.
Vê o sucesso da matéria e não apenas o pessoal.
Quer continuar em evidência e está disposto a evoluir sua forma comunicação.
Acredita na infografia ou estão abertos a discutir.
Independente do trabalho acredita no resultado.
Sabe que o texto junto com a infografia terá um resultado mais profundo.


No próximo artigo a conclusão sobre a convivência entre jornalistas e infografistas.

domingo, 5 de agosto de 2012

Estética de precisão

Infografistas costumam categorizar infográficos da seguinte forma:

Matador, impressionante, impactante, fud..., entre outros termos, eles são avaliados e relacionados a forma final, ou seja como foi "embalado" para publicação. Algumas vezes a imagem é tão fascinante que os detalhes da informação passam despercebidos, ou sequer notados.

Ainda que a infografia esteja evoluindo conceitualmente somos apaixonados pela harmonia do design, mas ao atingir esse nível de excelência visual por vezes a informação fica relegada a um coadjuvante do trabalho. A alguns dias atrás quase caímos (eu e o pessoal da infografia da Época) nesta tentação, tínhamos nas mãos uma pauta que nos levou a uma solução visual bastante interessante e elegante estéticamente, porém a pauta sofreu alterações, e o formato que havíamos garimpado ficou quase sem função. Após muita discussão decidimos manter a idea perfeita, porém fui acusado (pela consciência) por uma frase do Alberto Cairo que está gravada no meu cérebro:

A forma segue a função!

Esse foi o motivo que me motivou a discutir e defender (minha consciência) até abandonamos a forma perfeita para que a objetividade e efetividade fossem mantidas, e por falar em efetividade é isso que gostaria de considerar.

Quando nos interessamos em ingressar na infografia, somos cativados (quase que inconscientemente) pela forma, design, ilustrações e outros elementos visuais (acredito que grande parte se aproxime pela virtuosidade das imagens), mas quando se é efetivado no setor a parte da imagem esquecemos os passos que antecedem o design.

Nesse caso a infografia pode se tornar um fardo para quem não tem o espírito invetigativo e encarar muitas horas em busca de informações, números e empreender mais esforço ainda em traduzir corretamente a pauta. Ao observar as informações que são necessárias para um info de economia o aspirante a infografista pode ser supreendido por algo que nem de longe se parece com a área profissional que ele escolheu.

Um infográfico sobre física teórica, exige conhecimento de física e muita disposição em traduzir conceitos abstratos de forma clara,

A partir deste raciocínio é natural que alguns processos do universo infográfico sejam áridos, se o foco for produzir apenas belas imagens e não notícias. Um infografista por essência deve ter o gene do jornalista, ser um investigador nato, que "escreve" sua matéria com imagens, conceitos e cores.

O talento deve estar alinhado ao conhecimento multidisciplinar assim como é a infografia, e conforme os conceitos desta disciplina evoluirem os mais preparados serão os mais efetivos.

Hoje temos infografistas se aperfeicoando em jornalismo e estatística, aos poucos a infográfia dos anos 90 (onde a ilustração era o mais importante) está perdendo a força, isso não quer dizer que os infográficos são menos estéticos, pelo contrário, nunca foram tão estéticos, mas com conteúdo.

A crítica não é dirigida a imagem, mas sim a imagem sem relação, a imagem pela imagem sem fundamentação, a imagem que não exprime o lide, a imagem que ignora a pauta. Um infográfico que só utilize de imagens perfeitas mas não tenha conteúdo se torna incipiente não cumprindo sua função, informar.

A internet está repleta de trabalhos que representam os dois lados a beleza X informação, mas poucos são efetivos nos dois quesitos, como se fossem grupos que defendem sua posição. Um grupo gasta a maior parte do tempo na imagem enquanto outro disseca a informação, particularmente eu entendo que é possível obter os dois em um único trabalho.

Quando falamos de obter informação temos de ser objetivos, se a imagem altamente trabalhada não obscurecer a informação então ela deve ser usada. Vejo a informação como um produto e o leitor como consumidor deste produto, então partindo deste raciocínio quem consome quer obter qualidade em todos os níveis, da qualidade da informação a qualidade da imagem final.

A Ferrari produz carros com design impecável, porém sua forma tem uma função específica: fluidez aerodinâmica e velocidade. A Apple produz celulares, computadores e softwares com design esmerado buscando a perfeita interação entre o usuário e máquina. Esses são dois exemplos de estética de precisão, onde a função do produto também é determinada pela sua estética.

O consumidor ficou exigente, a infografia é um produto de informação, então ela também deve aliar os mesmos conceitos, primeiro buscar a precisão e depois produzir a melhor forma para atender o objetivo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Infografia especializada

Essa foi a tônica de uma conversa durante um almoço com alguns colegas de trabalho, entre eles Alexandre Lucas, Daniel Pastori e Luiz Salomão.

Partindo do jornalismo tradicional (texto), o assunto foi enveredando pelos comparativos entre infografia e jornalismo. É natural que um jornalista acabe se especializando em alguma área de seu interesse, conheço vários que não apenas conhecem determinada área, mas se tornam referência.
Existem também profissionais como economistas, físicos, biólogos que fazem o caminho inverso e acabam se especializando em jornalismo, então temos biólogos/jornalistas e jornalistas/biólogos.
Seria possível existir especialização para a infografia?
Vejo exemplos fora do Brasil que mostram que esse caminho é possível, redações como as do NYT ou National Geographic, possuem em suas equipes exatamente essa variedade de profissionais, cada um com um talento ou especialidade específica. Essa realidade, porém não se reflete em todas as redações no mundo, mesmo em países desenvolvidos isso não é comum.
Mas, isso é possível no Brasil?
De forma geral todas as equipes de infografia possuem profissionais com características bem definidas, alguns têm um senso estético apurado, outros, capacidade de organizar, ilustrar, compreender, empreender, apurar, e uma série outras capacidades. Também é senso comum que o melhor de cada profissional seja utilizado para produzir o melhor material final possível. Isso também é uma regra aplicada quando o infografista é freelancer, muitas vezes fui chamado para produzir 3D, ilustrações e afins principalmente para revistas que têm um cunho científico.
Mas existe alguém especializado em alguma área específica de infografia?
Não conheço um paleontólogo infografista, mas conheço um ilustrador paleontólogo, esse profissional não desenvolve um trabalho de ilustração para a paleontologia ele desenvolve a área de paleontologia através do seu trabalho de ilustração.
John Gurche, esse é o nome do artista, ou melhor como ele se auto-denomina Paleo-Artist, porém ele não apenas ilustra trabalhos de paleontologia, ele pesquisa em sítios arqueológicos ao redor do mundo e através de muita disciplina em anatomia comparada e conhecimentos sólidos em paleontologia ele começou a trazer a vida (inicialmente) dinossauros de todos os períodos, répteis, aves até chegar a anatomia dos macacos e primeiros humanóides como australopitecos, e Neanderthais, Homo Herectus (entre muitos outro).
O que chama a atenção ao ver seu trabalho é o realismo, porém isso não é fruto apenas de técnicas refinadas de desenho e pintura, mas sim de precisão absoluta em anatomia comparada. Li muito sobre ele e descobri que seu trabalho além de muito respeitado é referência para pesquisas e trabalhos que não existiriam sem sua dedicação em buscar a perfeição descritiva, ou melhor, ilustrativa. Vale à pena conhecer seu trabalho, aproveite e veja as cenas com dinossauros, absolutamente incrível, ainda mais se pensarmos que tudo que ele pintou foi com técnicas tradicionais. Apenas como referência ele fez as imagens das cenas do Museu de história Natural America, Documentários para Smithsonian Museum, National Geographic e BBC.
Mas e na infografia é possível existir especialização?
Temos um exemplo brasileiro interessante e contundente.
Erika Onodera.
Ela é conhecida por todos que trabalham com infografia ou ilustração, virou referência quando se fala sobre ilustrações médicas, anatômicas e similares. Considero seu trabalho inspirador. O caso dela não é uma questão de estilo mas de dedicação a um determinado ramo, no qual ela tem conhecimento de sobra, ou seja ela não ilustra apenas, mas seu trabalho é primordial para compreensão. Entendo que ela é tão especializada quanto qualquer editor especializado em saúde.
Mas especialização é crucial?
Sempre tendemos a nos interessar ou a produzir com mais facilidades para certas editorias. Eu me identifico muito com matérias de ciência, porém não faço isso em tempo integral. Acho que uma dose de especialização (em meu caso) é interessante, mas não como único foco.
O ponto crucial é que não há espaço suficiente para especializados e sim para os multidisciplinares, os quadros redações são enxutos demais especializados, a procura atual é em busca do profissional multifacetado, que pode agir em diversas frentes, da economia a física. A busca e pelo infografista jornalista, que conhece e produz conteúdo jornalístico.
Ainda é muito cedo para dizer se os especialistas surgiram em maior número, mas assim como jornalistas se especializam, acredito que infografistas especializados ainda encontrarão espaço para desenvolver seu trabalho, assim como a Erika Onodera.

domingo, 1 de abril de 2012

Ética infográfica


Nos últimos tempos ando pensando sobre o meio que trabalho, mais precisamente sobre jornalismo infográfico, ou jornalismo visual, tenho refletido sobre questões simples que parecem não ter uma respostas definitivas, entre elas voltei-me para um fato que não é discutido nem sequer pensado pela maioria de nós (infografistas).
A questão: ética profissional.
Não me lembro desde que iniciei na área jornalística ouvir alguém discorrer sobre isso, o que me leva a pensar: infografistas usam que código de ética?
Acredito que o código deva ser o mesmo dos jornalistas de texto, no mínimo.

Para quem não conhece o link é:

Uma leitura detalhada me levou até o capítulo II (conduta profissional do jornalista), artigo 6º, parágrafo IX que diz:

IX - respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas;

Somos parte do jornalismo, então pressuponho que este parágrafo sobre respeito autoral e intelectual deve ser a base para a infografia jornalística. Respeito ao direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas inclui pensamento, texto, fotografia e infografia em todas as suas formas também, de gráficos a mapas. Porém isso levanta algumas questões:

- Se copiar um texto pode render demissão, por que aceitamos um “print” para copiarmos?
- Por que aceitamos copiar?
- Por que isso parece comum?

Ninguém copia um texto literalmente, ninguém publica uma foto sem autorização, mas copiar ilustrações que compõe uma peça infográfica ou até um infográfico completo é corriqueiro.
O que leva a essa falta de ética tão descarada?
Uma das expressões mais em uso ultimamente é benchmark, o que significa copiar e não usar como inspiração, aliás a própria palavra inspiração já virou  sinônimo de cópia ou apropriação dá idéia.
A pouco tempo atrás fiquei assustado com um post do Alberto Cairo no seu site:
WHY IS INFOGRAPHICS PLAGIARISM SO COMMON? (Por que plágio em infografia é comum?)
Alberto Cairo trouxe um caso de “coincidência” de dois infográficos sobre o caso dos mineiros soterrados no Chile. Um foi publicado pelo jornal O Estado de São Paulo e outro pelo jornal italiano La Stampa. Em seu post ele discorre sobre as similaridades de ambos, mas destaca que o Estadão foi publicado antes. Com um olhar atendo nas imagens se vê claramente que não houve inspiração, mas sim cópia. Alberto chegou ao detalhe de desenhar em vetor por cima do trabalho do Estadão e depois posicionou (o vetor) por cima do trabalho do La Stampa, e assim entendesse que o traço do desenho é o mesmo, nos mínimos detalhes, que eu isso sugere?
Para mim que infografo e ilustro profissionalmente há 22 anos, é uma cópia.
Foram dois desenhos absolutamente iguais, mas quem fez antes é o autor inicial, mas o fato mais absurdo é que ambos os trabalhos participaram do SND (Society for News Design) evento que premia anualmente trabalhos na área gráfica e digital (jornais e revistas), porém o La Stampa ganhou um Award (prêmio de reconhecimento) e o Estadão não.
Como pode ocorrer algo assim?
Como pode o La Stampa ganhar com um trabalho igual ao que o Estadão fez antes?
Esse fato caiu como uma bomba no meio infográfico, mas qual será a atitude da SND se além de já ter premiado já imprimiu e distribuiu o livro com a imagem dos vencedores?
Será que vamos ter segundo clichê do livro?
Será que veremos uma retratação publica e o prêmio dado ao Estadão?
Esse é o exemplo mais gritante de falta de ética dos últimos tempos. Quando aconteceu o acidente dos mineiros chilenos todos os departamentos de infografia do mundo correram atrás de informação, os jornais La Tercera e o El Mercúrio tinham as melhores condições para obter informações, e me lembro do Alberto Cairo entrando em contato com os chefes de infografia de ambos para pedir autorização para utilizar informações que eles (in loco) haviam conseguido.
Essa atitude dele e a autorização dos dois jornais nos deram informações valiosas para usarmos em nossos infográficos, usamos as informações mas não copiamos nada (graficamente), e além disso em nosso trabalho demos o crédito a ambos os jornais.

Veja o post sobre esse assunto em:

Eu mesmo já vi muitos trabalhos meus sendo utilizados na íntegra em vários sites, não sei absolutamente como isso pode ser evitado mas é fato que hoje em dia é corriqueiro as pessoas utilizarem trabalhos dos outros de forma continua. O que não entendo é como infografistas profissionais fazem isso de forma natural. Mas, tenho certeza que ninguém aprecia ver seus trabalhos copiados.
Há alguns anos atrás aconteceu um caso inusitado, eu estava em uma redação discutindo um infográfico com o designer, quando o diretor de arte me chamou em sua sala, na sua frente estava uma série de infográficos. Ele me perguntou se eu conhecia trabalho deste infografista que ele estava atentamente olhando, para minha supresa todos os infográficos eram meus, porém devidamente creditados com outro nome.
O próprio diretor me disse que havia me chamado por esse motivo, pois sabia que eram meus os trabalhos.
O que posso dizer desse caso?
Vou mais longe como posso olhar o autor desse roubo?
Copiar não é usar como referência, apropriar-se de algo criado por alguém também não, ser infografista é ser jornalista visual e isso inclui o mesmo código de ética, acho ainda que deveríamos ter um código de ética do profissional de infografia, pois assim como o jornalismo tradicional possui suas características o jornalismo infográfico também tem suas particularidades.
Um outro tipo de problema comum nos infográficos é a falta de critério e precisão com a informação, tópico do próximo post.

quinta-feira, 29 de março de 2012

A busca do Titanic



Há 100 anos o Titanic afundou. Seus destroços foram achados em 1985, no final de uma operação secreta da Marinha americana que visava investigar dois submarinos nucleares perdidos nos anos 1960.


Mais uma infografia que tivemos que pesquisar muita, apesar de muitas idéias terem sido descartadas, chegamos a um info honesto. Nossa meta era contar um pouco a história que levou Robert Ballard a encontra o Titanic, mas o resultado avabou mostrando mais o Titanic que a saga.

Um aviso, desconsiderem a fumaça da última chaminé, ela não era uma chaminé e sim um duto de circulação de ar, quando falamos sobre esse detalhe (no final da produção) fomos desencorajados a alterar o arquivo, coisas de redação e deadline.

Produzido por: Gerson Mora, Marco Vergotti e Pedro Schimidt

terça-feira, 27 de março de 2012

Fazer e pensar infografia


Ao longo dos 22 nos que trabalho com infografia interagi com muita gente de redação, de jornalistas a arte-finalistas (existia essas profissão nos início dos anos 90) de repórteres a ilustradores, de revisores a cartunistas. Uma gama imensamente variada de conhecimentos, estilos, modo de vida e logicamente opiniões.
Considero que essa ampla variedade foi decisiva para minha formação, considero que esse “caldeirão” múltiplo é seguramente responsável por 90% de como penso hoje sobre infografia, ainda que o mundo fora redação não tenha idéia do que é um infografista sinto que ser um me dá oportunidade de exercer uma profissão singular, e isso no mundo atual é uma exceção. O universo da infografia, mesmo sendo minúsculo é fervilhante nos debates acalorados, com questões que vão do famoso estético ou analítico da discussão semântica infográfico ou infografia, e também da expressão arte significar infografia.
Neste cenário a profissão se apareceu, evoluiu, mas ainda não se explicou plenamente.
Infografia é jornalismo?
É arte?
É design de informação?
Nos não muitos materiais publicados sobre infografia existem opiniões absolutamente opostas, e assim sendo não existe consenso. O ponto de une todas as opiniões é:
A infografia veio para ficar.
Independente da plataforma, impressa ou digital, é fato que ela cresce continua e expressivamente e não existe nada que indique retração, assim sendo estamos diante de alguns impasses, porém vou me ater a apenas um deles.
Se uma área cresce, é natural que os profissionais que vivem dela se especializem em conceitos e ferramentas para obter resultados que venham a alavancar sua profissão. Partindo desta premissa, então a questão primordial é:
Os infografistas estão se especializando em quê?
Conceitos ou ferramentas de produção?
Tenho participado de algumas conversas que me motivaram a meditar sobre a forma como nos preparamos. Falo com quem como eu respira infografia todos os dias, mas que a cada novo trabalho se defronta com conceitos subjetivos.
Quem nunca ficou frustrado ao idealizar um trabalho, no qual todos os passos como pauta, conceito, hierarquia, informação e narrativa foram atingidos plenamente, porém este esforço se mostrou inútil durante o processo de edição?
Em muitas conversas que tive com Alberto Cairo falamos sobre isso e entendo que o maior problema reside de fato nos próprios infografistas, e aí eu me incluo.
Nós fazemos ou pensamos infografia?
Nós fazemos jornalismo ou arte?
O debate jornalismo ou arte acaba sempre desembocando em expressões que não geram nenhum resultado prático. O fato é simples trabalhamos em jornais e revistas que são empresas jornalísticas, ou seja produzimos material jornalístico, e como tal devemos entender o processo.
Sendo assim, então todos os infografistas pensam jornalisticamente?
Presenciei muitos casos em que o jornalista responsável, seja ele repórter ou editor não apenas mostraram que a linha de raciocínio do infografista estava errado como era completamente subjetivo. Argumentos como bonito, impactante, compor, e equilibrar eram facilmente refutados pois não tinham fundamentação.
Em muitos casos o repórter estava correto, mas naqueles em que não estava utilizava o histórico a seu favor para conduzir conforme sua visão. Em simples palavras muitos não acreditam na capacidade jornalística dos infografistas.
A cultura centenária das redações ainda é a dos textos acima de qualquer outra forma.
Jornalistas formulam, infografistas executam.
O maior exemplo que vi foi um jornalista decidir as cores, espessuras de fio e a qualidade das ilustrações que compunham o infográfico, o mais curioso é que ele foi atendido prontamente. Isto demonstra que ainda que um jornalista não tenha nenhum conhecimento técnico sobre design, hierarquia visual, composição ou teoria da cor ele detém a opinião final.
Como então podemos debater sobre assuntos de seu domínio como pauta e apuração?
Sendo jornalistas.
Conhecendo os conceitos com a mesma profundidade.
Não se debatem idéias sem preparo, não se discute jornalismo sem conhecer jornalismo.
Quando me deparo com frases como:
infografistas não tem que fazer pauta, isso é trabalho para a redação. Com a nítida afirmação que não somos.
Na maioria das redações do Brasil e do mundo a infografia é um braço da editoria de arte, até aí nada de errado, mas esse fato reforça que infografia é um crossover nas redações, não é jornalismo em sua totalidade nem arte. Por conseqüência vejo o mesmo em relação a profissão de infografista, não é jornalista nem artista.
Esse é o grande desafio, estabelecer o jornalismo visual,
Aprecio imensamente o jornalismo, e apesar de não ser um com formação acadêmica me considero um. É imensamente gratificante pensar da pauta ao infográfico pronto, produzindo em todas as etapas, mas não solitariamente, a infografia é também exercício de sinergia, assim como o jornalismo tradicional. Não existe matéria produzida por apenas uma pessoa, durante sua apuração e edição é comum ver jornalistas discutindo profundamente detalhes, pontos de vista e viés.
A infografia por ser multidisciplinar é um laboratório a cada trabalho, desperdiçar o pensamento coletivo é limitar o potencial de um trabalho.
Antes de tudo é necessário uma reflexão individual sobre que tipo de infográfico produzimos, e qual é minha atividade como infografista.
Acho que podemos dividir em três níveis distintos:

1) Passivo
Seria o que nos anos 90 chamávamos de arte finalista. Recebe um trabalho que já foi idealizado por alguém, mas a atividade se resume a organizar, sendo o infografista apenas um profissional que organiza e deixa “bonito” (expressão popular nas redações).

2) Pró-ativo
Recebe uma pauta escrita e definida, mas pesquisa para encontrar algo além do que foi proposto. É o profissional que confronta, tenta somar e analisa as possibilidades, que sempre acredita que existe mais do que lhe foi entrega.

3) Pleno
Procura pautas, cria sua lista de fontes, escreve, edita textos, olha oportunidades e possibilidades em qualquer tema. Este é o profissional que muitas vezes debate, argumenta profundamente com editores e repórteres sobre cada ponto, sugere e estuda minuciosamente, analisa números cruza referências e opiniões, tem capacidade de produzir em todas as etapas, ou seja tem capacidade de gerir e influenciar intelectualmente.

Um detalhe curioso é que principalmente no Brasil (mas não apenas) quase todo o contingente de infografistas não possui jornalistas de formação em suas equipes, mas a maioria é composta por ilustradores, artistas gráficos, então é natural que a visão da infografia (nas redações) seja a de profissionais artistas mas não jornalistas, talentosos porém artistas.
Infografia é jornalismo, mas estamos nos preparando conceitualmente ou estudando ferramentas de design apenas?
Vejo muitos colegas que estão preocupados em estudar HTML, Java ou aprender 3D, isso é absolutamente importante, mas não é o principal. Concordo com o Alberto quando ele diz que qualquer um pode pensar infografia, mas vejo a infografia preocupada com visual e pouco com jornalismo.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Gastos de brasileiros no exterior - Infográfico (2012) Época


Produzido para Revista Época.
Existem infográficos que pela própria natureza da pauta as idéias fluem, este é um deles.
Este é mais um dos que a pauta surgiu na infografia, discutimos algumas vezes sobre esse assunto após ler na mídia a informação do enorme crescimento de gastos de brasileiros no esterior. Após passar a notícia existia a sensação que esta seir mais uma proposta que seria engavetada, mas como tínhamos um conceito que ainda que não fosse nova a notícia era muito interessante e relevante para ser esmiuçada.
A pauta foi aprovada e agora o desafio seria mostrar o lado além apenas da notícia, nos debruçamos sobre muitas variáveis e consiguimos encontrar uma proposta muito abrangente, comparando os gastos de países estrangeiros co  o Brasil em diversos níveis. Comparando crescimento da população com valores em US$, forama muitas as paradas para repensar o conteúdo. Enquanto o Rodrigo pensava na hierarquia de cada ponto a ser comparada (e desenhava) muitas vezes (e foram muitas mesmo) alinhavamos o caminho.
Discutimos muitos pontos com a reporter Luciana Vicária que entrou na produção aos 45 do segundo tempo, mas foi de uma competência incrível, por muitas vezes tivemos que usar de persuasão para convencer a diretoria executiva que a proposta estava clara, por sinal cabe dizer que o Diretor Alexandre Mansur nos apoiou muito e acreditou na nossa pauta.
Enfim um info como diria Alberto Cairo. analítico e investigativo em base de dados.
Produzido por: Gerson Mora,  Rodrigo Fortes e Luciana Vicária (textos)

Para conhecer mais infográficos que publiquei e que estou publicando atualmente veja:

Flickr Gerson Mora
Maná e.d.i. (em construção)